sábado, 5 de dezembro de 2009

A folha seca.

Seus pés agora pareciam tão grandes face à pequeneza da avenida, e sentado ali sentia os primeiros efeitos do Valium recém tomado, precisava tomar uma decisão e isso era inadiável.

O vento frio cortava impiedosamente seu rosto, deixando-o quase dormente, isso somado aos efeitos do Valium fazia o entorpecimento tomá-lo aos poucos tomar seus sentidos de assalto, e daquela altura qualquer perda de sentidos poderia significar a perda deles para sempre.

Seus últimos gritos ainda ecoavam na sala atrás de si, e era como se aquilo tivesse ocorrido á anos, tentou, mais não conseguiu lembrar-se do rosto dela tentando lhe explicar que aquilo era passageiro.

Na verdade lembrava-se muito vagamente do leve sorriso que deu antes da explosão de fúria, antes de dizer mesmo que não acreditando o quanto a odiava, o quanto queria que aquilo tudo acabasse, lembrou-se do primeiro vaso a voar de suas mão e atingir com uma precisão que não lhe era peculiar a parede que a dois dias ela tinha pintado.

E antes de ele pegar o pequeno Buda que assentava-se sobre a mesa de centro ela saiu da sala, deixando atrás de si apenas o silencio, e isso era apenas o que ele ouvia agora, o silêncio. Observava o mundo daquela altura e tudo lhe parecia tão insignificante, tudo tão pequeno que mesmo sabendo ser imponderável via sua mão pairar em meio a pequenos bólidos azuis, e começou a perceber que a perda total de seus sentidos se aproxima.

Agora já ouvia o arfar de seu diafragma muito mais forte, era como se todos os sons externos a seu corpo estivessem sido abafados, ouve seu coração ainda compassado tentando em vão empurrar seu sangue ao corpo em cuja mente é travada uma batalha entre a continuidade dessa existência posta em “xeque” pelos últimos acontecimentos.

Já quase totalmente entorpecido levanta-se e debruça-se derradeiramente no parapeito, e do altos daqueles 21 andares imagina-se voando como uma folha seca na primavera, senti que o vento ainda pode lhe alcançar levando-o para longe daquilo tudo, e senti perder seus sentidos sendo abraçado pela escuridão que tanto aguardava.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O observador, em busca da sanidade.

Abriu a porta devagarzinho para não chamar a atenção, no entanto o ranger da porta foi ouvido por toda a sala provocando o que ele temia, a avalanche de olhares que se voltaram em sua direção, sentiu-se acuado por um instante com o a análise minuciosa que todos sempre faziam dos novatos, maldita falta de lubrificação (que ambíguo!)!.

Sentou-se logo atrás de uma menina ruiva, que foi uma das poucas que não se virou para lhe ver entrando, o hábito de tentar decifrar as pessoas apenas por detalhes logo o fez voltar seu olhar para a garota ruiva, fazendo-o esquecer por alguns minutos os problemas que tinha e os que viria à ter, outro hábito, sofrer com antecedência.

A menina tinha um pequeno laço roxo que partia seu cabelo em dois, dando-lhe um aspecto recatado. O laço tinha cara de artesanato, não era industrializado com certeza, as costuras levemente desuniformes denotavam isso, poderia ter sido uma avó ou mãe um pouco mais “velha” que passa horas bordando ou costurando tentando preencher o tempo até o encontro com a senhora de preto.

Hum, então usar coisas que as mães ou avós fazem mostram que ela não tem medo de ser ridicularizada, os (nós) adolescentes odeiam mostrar qualquer afetuosidade pública aos pais ou mesmo parentes e usar algo como aquilo mostrava ser ela um pouco estranha já que nessa (nossa) idade uma das coisas mais importantes é tem a chamada “reputação” que com certeza não perpassava por utilizar de acessórios que não fossem de uma grife famosa, ele gostava de meninas estranhas.

Do cabelo logo observou que ela utilizava uma camiseta branca, um pouco (muito!) amarrotada, de duas uma, ou ela saiu atrasada de casa não dando tempo para ela arrumar-se ou ela veio de busão, esta ultima muito improvável já que a mensalidade do colégio era equivalente a dois salário mínimos e meio, ou seja, quase todos ali nunca andaram de ônibus, imaginem uma menina usando D&G dos pés a cabeça pegando um bus lotado, sem chance! Esta possibilidade era a mesma de eu ir em um show do calypso vestido de “joelma”!.

O Sinal tocou impedindo que ele continuasse sua nova velha diversão, ela se levantou rapidamente e saiu da sala sem falar com ninguém, deve estar indo à cantina, bom lugar para continuar sua análise e para ele continuar a entupir sua artérias e quem sabe dar trabalho no futuro á seu pai cardiologista, uma ponte de safena sempre foi seu sonho e com um pouco de sorte uma mamária como cereja do bolo e um Stent como cobertura!

To be continued.....

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Saudade...mais uma vez.

A caminhada desta vida nos leva à muitos ambientes diferentes, com pessoas diferentes, e em cada um destes lugares angariamos novos amigos construindo uma rede de amizade que hoje pode se estender por todo o globo. No entanto quantos destes merecem o titulo honorifico de amigo?

Ainda me lembro muito bem de cada um dos meus grandes amigos, na verdade em cada ciclo da vida nos vinculamos fortemente as pessoas que nos circundam, no entanto a dinâmica da vida moderna acaba por nos afastar das pessoas que aprendemos a duras penas a amar.

Mesmo com o advento de ferramentas como o orkut e twitter que (eu odeio) mantêm mesmo que artificialmente uma proximidade, a saldade ainda prevalece, a saldade dos momentos de descontração, onde passamos dias sem dormir por causa da temida prova de genética II, daqueles primeiros dias (meses e anos) da universidade, quando ainda acreditávamos em uma solução e nos deslumbrava-mos a cada nova descoberta, a cada novo passo que dávamos rumo a temida vida adulta, das festas à beira do rio (sendo comidos vivos pelos mosquitos carnívoros).

Mas a roda viva nos leva impreterivelmente para novos cantos, nos afasta sem pena, e a única coisa em que nos agarramos são aqueles momentos em que olhávamos um para os outros e nos enxergava-mos uns nos olhos dos outros, onde finalmente encontrava-mos pessoas que como nós éramos estranhas que gostavam de ler e estudar, éramos e continuamos “estranhos”.

Amigos sim, amigos de chamar-mos as mães de “tias”, de conhecer e entender todos os defeitos e exaltar as parcas qualidades uns dos outros, de dar o ombro na hora de chorar e o puxão de orelha na hora de tentar colocar nos eixos, de se preocupar mesmo de longe, de se orgulhar dos feitos, enfim, éramos e sempre seremos família que escolhemos e dos quais as histórias nossos netos ouvirão atentos , tentando entender como o avô um dia foi tão louco e tão feliz.




ps: onde estivermos s seremos sempre a turma de zootecnia de 2005 seja em Minas, São Paulo ou nos confins do Pará, seja exercendo a zootecnia seja a advocacia (meu caso).

terça-feira, 28 de julho de 2009

O gatilho.

Mais uma vez sentia o metal frio entre seus dedos, aquela sensação há muito deixou de incomodá-lo, na verdade sentia-se estranhamente familiarizado com aquilo. Sua mão trêmula pendia sobre estilhaços de vidro da janela que teve que quebrar para ter uma visão nítida, e os cacos de vidro o perfuravam lentamente fazendo correr um fio escarlate sobre a parede cor de chumbo.

Aos poucos apareceram os primeiros capacetes verde musgo no fim da estrada, sabia quer aqueles eram apenas os peões, e como tais sempre os primeiros a serem sacrificados pela glória de outros os quais não possuem conhecimento, enfileirados como formiginhas caminham movidos por mãos que de longe os ordenam e que não sujam suas mãos com o profano sangue de soldados rasos.

Mas rapidamente afasta estes pensamentos, a concentração é fundamental no seu trabalho, sempre foi, ele sabe que terá apenas uma chance, e a simples possibilidade de desperdiçá-la lhe aterroriza.

E logo aparece sobre um blindado um homenzinho franzino de tez pálida, esta figura lhe aterroriza desde que recebeu sua fotografia, com altivez não condizente com suas características físicas imprime ordens a torto e a rodo com rispidez típica dos vermes.

Não entendia como aquele homem tão pequeno, que não emitia nenhum sinal de crueldade, poderia ter sido o desencadeador da ordem que resultou na morte de centenas de dissidentes refugiados na única escola judia da velha cidade.

Isso não mais importa, ordens são ordens, só resta à ele cumpri-las sem perguntar pra que ou para quem, mas, eliminar homens como aquele não era nenhum sacrifício, devendo ate receber uma medalha por bravura quem sabe.

Seu campo de visão melhora, e o homenzinho agora desponta claramente na sua frente, sem remorso ele aciona o gatilho, deixando o projétil correr dando ao seu alvo o destino que merece, com esse são quinze, agora só faltam cinco.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mais uma vez, olhinhos verdes.

A luz fria da fluorescente lançava um ar mais sombrio e triste, onde a tristeza já transbordava pelas janelas e transpassava pelas frestas da porta invadindo o corredor que exalava éter.

Dentro do cubículo branco os únicos sons ainda audíveis são os “bips” compassados dos instrumentos que insistem em manter artificialmente aquilo que nos prendemos tanto, e evitando o nefasto e inevitável epílogo de uma comédia ou drama, como queira.

O corpo que jaz deitado na cama daquele cubículo há muito não têm seu corpo banhado pelo calor do sol, há muito não vê ou sente o cheiro das mangueiras, apenas resiste por insistência infantil, faz um ultimo esforço e vagarosamente levanta as pálpebras tentando ver os aparelhos aos quais está ligado há tanto tempo.

Aparelhos de Merda!, que ainda fazem o músculo se contrair e adiar o que ele já se aceitou há muito, e uma lágrima apressada corre por seu rosto demonstrando uma certa inconsistência desse seu finalismo. Outra lágrima corre, e traz consigo as lembranças da primeira vez que viu aqueles pequenos olhinhos verdes, dos primeiros passos, e das muitas quedas.

Outras lágrimas correm insistentes, formando um rio melancólico e silencioso, sobre aquele rosto agora úmido que sobreviveu à tantos sóis, verões e invernos, que amava e odiava, que vivia e morria a cada instante, que agora só pensava em mais uma vez, pela última vez, ver aqueles olhinhos verdes, abraçá-los.

sábado, 6 de junho de 2009

Minc e os ruralistas...

Nas últimas semanas temos visto o embate entre Carlos Minc (Min. Do Meio ambiente) e os parlamentares da chamada “bancada ruralista”,este embate é apenas a ponta de um icerberg de um problema que se arrasta a várias décadas, cuja solução é complexa e não totalmente normatizada.
A preocupação com a conservação ambiental teve seu “boom” na segunda metade do século XX com o advento do reconhecimento dos direitos humanos de “3° dimensão”, esta dimensão trouxe à baila a questão “ambiental” como um direito universal.
Assim, a partir deste nascimento foram realizados vários “encontros” que discutiram a questão ambiental, sendo o Brasil signatário de vários tratados internacionais nos quais se comprometia a criar mecanismos protetivos do meio ambiente, no entanto, desde o inicio das discussões ambientais duas vertentes se formaram e se tornaram antagônicas, uma corrente defende a proteção ambiental com a criação de áreas protegidas sem presença humana (preservacionistas); e outra que defende uma proteção ambiental condicionada ao desenvolvimento ambiental sustentável, sem excluir o homem desse processo (desenvolvimentista).
Os embates entre estas duas vertentes de pensamento exprimem bem a atual situação das discussões acerca das mudanças na legislação ambiental, a grande discussão fica por conta da diminuição da chamada “reserva legal”, esta reserva legal é a área que não pode ser utilizada dentro da propriedade rural, devendo ser preservada no percentual de 80% na Amazônia legal, 35% nas áreas de cerrado, e 20% nas outras áreas.
A necessidade da preservação desta área e o percentual diferenciado de região pra região, implicam em conseqüências diretas sobre a produção agrícola nacional ,que fica engessada por uma legislação que é equivocada em muitos pontos, legislação esta criada sob pressão de organismos internacionais que não se atêm à necessidade e direito da população dependente da terra agricultável para sua subsistência.
Como visto este problema é complexo, no entanto a intromissão de questões puramente políticas ou com fantasiosas ilusões ecológicas apenas inviabilizam a construção de uma legislação atual, que possa atender tanto a proteção ambiental quanto ao desenvolvimento econômico das regiões que estão sendo tolidas desse direito que também é universal.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

o mórbido gosto.

mórbido gosto.

O ser humano (a maioria) sempre teve um gosto pelo mórbido e estranho pela morte, uma dubiedade de medo e curiosidade, constatação que você pode ter quando anda de ônibus ou de carro e o trânsito começa a ficar lento, de duas uma, ou é acidente ou estão construindo algum novo viaduto que vai de lugar para lugar algum. Se for o primeiro caso (acidente), nos ônibus as pessoas se acotovelam, pulam umas em cima das outras para ter uma visão melhor do acidente, se tiver morte então... Já os benditos motoristas de carros passam lentamente como que para degustar a proximidade da morte alheia.

Ontem mesmo, após uma “Festinha” estava eu a voltar para casa quando percebo uma movimentação estranha da policia no canteiro central da Br-316, era um rapaz que havia sofrido um acidente, isto de acordo com alguns “populares” que esperavam comigo o “busão”, logo acima do local onde o rapaz foi jogado passa uma passarela, esta virou uma verdadeira arquibancada com torcida e tudo, só faltava a “hola”, e mesmo com os policiais tentando afasta-los as pessoas atravessavam depressa a “Br” para tentar ver mais de perto o acidentado, como se aquilo fosse um espetáculo e tivessem sido abertas naquele momento a gloriosa cortina do circo da morte.

Não vou entrar no mérito da questão filosófica,religiosa da morte, esta muito debatida e pouco ou nada entendida, no entanto, o “SER humano” deveria ter um pouco mais de respeito aos mortos ou a beira desta como forma de externar o comportamento digno de um animal com polegares opositores e que (quando não está vendo big brother) diferentemente dos outros animais (há quem diga o contrário) pensa....

melk