terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ser humano (?)


Lembro-me bem de um texto de um autor que não me lembro no momento o nome, mas o nome não importa, a mensagem foi importante, ele mostrava o espanto de um homem frente a uma realidade estarrecedora, essa realidade que o autor demonstrava vi, e tive a mesma sensação do autor que a concretizou em um conto.

O conto se passava em uma cidade cosmopolita, onde um homem via um outro homem (até ele duvidou por um momento que aquilo fosse um homem) se alimentando de restos.
Há algumas semanas ao ir ao meu jogo semanal sagrado vi uma cena igual que me fez pensar em o quanto evoluímos como sociedade nesses quase vinte anos do conto original, em meio á carros importados e gente se dirigindo a avenida mais “badalada” de Belém uma família formada por 5 (Cinco) pessoas procuravam ávidas por algo para comer em um amontoado de lixo naquela área nobre.

O que mais me espantou foi a naturalidade com que as pessoas passavam por aqueles que deveriam ser considerados iguais, passava, sem mesmo olhar a cena, não se constrangiam ou mesmo se inquietavam, agiam como se aqueles entes fossem sombras que não mereciam sua atenção.

Esse status de consciência (inconsciência) é o mais perigoso, é quando não mais nos sentimos ultrajados com cenas como estas, chegamos à negar à eles um status humano , não os consideramos iguais, e por isso alguns acham (espantem) que eles até merecem estar naquele estado, como se alguém almejasse se alimentar dos restos da sociedade, não só os restos de alimento,como também dos restos de amor e solidariedade que ainda restam em poucos quase humanos.

Depois de muitos anos, natais e reveillons não mudamos muito, desejamos somente o amor e felicidades pra quem conhecemos e nos estão próximos, e ainda abraçamos de bom grado a indiferença que berra ao nossos ouvidos, negamos a racionalidade e nos tornamos menos humanos à cada dia.

SERÁ QUE AINDA PODEMOS DIZER QUE SOMOS SERES HUMANOS?você ainda se inquieta...???

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O vôo.


Não consegui mais olhar pra ela da mesma forma, não se lembrava mais desde quando havia sentido aquilo ,mas, parecia eterno. Enquanto pensava os postes iam passando, as pessoas passavam sem entender o porquê daquela velocidade toda.

Pensando bem, era loucura mesmo, 90km/h em uma estrada coberta de gelo era um chamado ao suicídio, no entanto, era a forma mais fácil e rápida de se distanciar do que ele tentava esquecer, e por mais que ele pisasse no acelerador e ouvisse as batidas do seu coração cada vez mais fortes sabia que aquilo ainda iria durar muitas e muitas noites.

Quando tentou fazer a conversão à direita quase bateu em uma Caravan, o motorista lhe xingou, mas que xingasse mesmo, agora mais nada lhe importava, apenas sentia que não tinha outra opção, sabe aquele momento em que não existe um plano B, e mesmo você não acredita no plano A, esse era o momento.

O plano A foi um verdadeiro fiasco, saiu da sala sem nem se despedir, passou em frente ao diretor ainda esbarrando e ouvindo os sussurros de risadas à suas costas, isso que lhe mais doía, saber que tudo que ele tinha pensado dela era apenas uma projeção do que ele verdadeiramente queria ver, e não da realidade triste e escura.

Sabia que o fim estava chegando, aquele era o ultimo ato de uma vida sem brilho, ato fracassado e finalístico em sua essência, quem sabe eles o entendessem, mas isso era pedir demais, pois , nem ele se compreendia, não sabia se aquilo era certo ou errado e muito menos mensurava as conseqüências do seu ato.

Entrou no inicio da ponte saindo um pouco de traseira, mas o que isso importa, aprumou o carro em direção à parte que julgava menos espessa na barreira de concreto e se foi,voando, apenas voando era o que pensava, e teve apenas tempo de contemplar o rio vindo em sua direção com sua cor cinza fúnebre tão ideal, voando.