Não consegui mais olhar pra ela da mesma forma, não se lembrava mais desde quando havia sentido aquilo ,mas, parecia eterno. Enquanto pensava os postes iam passando, as pessoas passavam sem entender o porquê daquela velocidade toda.
Pensando bem, era loucura mesmo, 90km/h em uma estrada coberta de gelo era um chamado ao suicídio, no entanto, era a forma mais fácil e rápida de se distanciar do que ele tentava esquecer, e por mais que ele pisasse no acelerador e ouvisse as batidas do seu coração cada vez mais fortes sabia que aquilo ainda iria durar muitas e muitas noites.
Quando tentou fazer a conversão à direita quase bateu em uma Caravan, o motorista lhe xingou, mas que xingasse mesmo, agora mais nada lhe importava, apenas sentia que não tinha outra opção, sabe aquele momento em que não existe um plano B, e mesmo você não acredita no plano A, esse era o momento.
O plano A foi um verdadeiro fiasco, saiu da sala sem nem se despedir, passou em frente ao diretor ainda esbarrando e ouvindo os sussurros de risadas à suas costas, isso que lhe mais doía, saber que tudo que ele tinha pensado dela era apenas uma projeção do que ele verdadeiramente queria ver, e não da realidade triste e escura.
Sabia que o fim estava chegando, aquele era o ultimo ato de uma vida sem brilho, ato fracassado e finalístico em sua essência, quem sabe eles o entendessem, mas isso era pedir demais, pois , nem ele se compreendia, não sabia se aquilo era certo ou errado e muito menos mensurava as conseqüências do seu ato.
Entrou no inicio da ponte saindo um pouco de traseira, mas o que isso importa, aprumou o carro em direção à parte que julgava menos espessa na barreira de concreto e se foi,voando, apenas voando era o que pensava, e teve apenas tempo de contemplar o rio vindo em sua direção com sua cor cinza fúnebre tão ideal, voando.